segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O lado verde da força

A onda verde e todas as suas tendências hoje estão tão em alta quanto tantas outras modas e comportamentos já estiveram, mas talvez, com muita sorte, essa onda verde estacione e fique para a história. Porque ela não é só uma tendência como muitos jornais, revistas e opinólogos insistem em dizer. Ela não é só bonitinha. Ela surge como necessidade, e com a urgência de um par de óculos em tempos míopes. A revista Sustenta! em sua oitava edição mostrou com uma clareza que ainda é rara, a diferença entre enfocar a sustentabilidade como uma vertente de ação dentre tantas outras e enfocar tudo o que existe de forma sustentável: ciência, política, indústria, arte. O que no fim das contas, quer dizer: fazer direito tudo que fizermos daqui pra frente.

Sustentabilidade é uma palavra bonita, mas que se torna séria se olhada através de lentes mais lúcidas, sustentabilidade quer dizer: garantir o sustento, a sobrevivência das espécies como um todo. Incluindo a espécie humana, lembrando mais uma vez o óbvio: somos parte da natureza também, e não uma instância separada e superior como crêem os míopes. Quem olhar ao redor verá que a sobrevivência de todas as espécies anda trêmula e frágil por toda parte. De opção à necessidade, ser sustentável hoje, significa ir contra a própria destruição

O clichê das tragédias urbanas

Existem situações que não cansam de se repetir nas cidades quando, cada vez mais frequentes, irrompem enchentes, casas alagadas e barrancos vindo abaixo com tudo e todos. Seja no asfalto da rua ou na tela da tv, segue-se sempre a mesma indignação fervorosa, que se volta contra o poder público e, sem remédio, faz mais alto o lamento da tragédia, do infortúnio e da fatalidade.

A mídia principalmente, explora muito bem estas duas vertentes dando vazão à voz que reforça a superficialidade e propaga, mais uma vez, o erro da desinformação.

A culpa é de quem? Dos governantes que hoje se acham empossados tentando consertar o que se deve há séculos de estreiteza? Vamos culpar quem, se vivemos em cidades que desde a primeira pedra não atentam para uma ocupação inteligente do espaço? Apinhadas entre avenidas cinzentas, asfalto e lixo, nossas cidades foram construídas para o caos. Se todo o verde que absorve a água da chuva foi ceifado há tempos do ambiente urbano, para onde querem que vá toda essa água?

A culpa é dos rios, represas e córregos estrangulados? Ou será que o comportamento de cheia de um fluxo de água com alagamento de suas margens é algo antinatural? Podemos perguntar a alguns povos da antiguidade, que viviam às margens dos rios, e que com pouca instrumentação e pretensão, sabiam bem mais do que nós.

Se a culpa é dos governantes, vejamos que incrível surpresa temos ao saber que o poder público atua por meio do trabalho e das idéias de cidadãos comuns, engenheiros, arquitetos, agrônomos, economistas...que em sua maioria só agora atentam para uma construção do espaço saudável e inteligente. Então, a culpa é de quem?

Ocupamos todas as encostas dos morros. Falar do problema social que estes morros carregam não resolve o problema. A natureza é sempre natureza, sempre foi e sempre será. Domá-la é uma ilusão tão grande como aquela que fez e ainda faz pouco das advertências dos ambientalistas, que aliás, já avisaram: vai chover, e muito.

De onde vem a tragédia então? Vamos chorar uma tragédia que nós mesmos escolhemos enquanto cidadãos, geração após geração? Enquanto isso a voz do repórter anuncia mais uma fatalidade na cidade transbordante, mais uma vez, lamentando os efeitos, mais uma vez, desconhecendo as causas.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Avatar e a Cultura da Guerra

De que adianta o coro dos bons modos, da cidadania, da ética e da Xuxa, dizendo que é bom ser bonzinho com nossos amiguinhos se vivemos em uma sociedade impregnada por uma cultura de guerra? Guerra? Como assim dirá você? E não só é uma cultura de guerra, como também é uma cultura da agressividade e do domínio.

Vejamos primeiro as crianças, e vamos deixar as meninas de lado nesse momento, cuja característica que principalmente as difere dos meninos na infância e pré adolescência é o encaminhamento para uma feminilidade exaustivamente preenchida pela moda, pela beleza, pela busca de atenção e poder, e obviamente, pela sedução a qualquer preço do macho dominante. Mas vamos deixar as meninas de lado e vamos falar dos meninos, obviamente de modo geral.

A naturalidade com que um menino de 5 anos imita um revólver com a mão e distribui sonoros tiros cinematográficos sobre seus coleguinhas, é a mesma com a que os pais presenteiam seus filhos com toda sorte de artefatos e ícones de guerrra e violência: armas, bonecos armados, tanques de guerra, desenhos animados repletos de pancadaria e lutas, que, quer sejam entre o bem e o mal, aparecem cada vez mais agressivas e cotidianas. Estes mesmos pais fervem de dor de cabeça em uma reunião de colégio quando ficam sabendo que seu anjinho mordera a orelha do coleguinha no recreio.

Por essas e outras, é bem possível que o filme Avatar tenha pego muitos pais de surpresa, que, ao levarem seus filhos para mais um filme de ação cheio de efeitos especiais, acabaram levando de brinde uma lição sobre como a bestialidade glamourosa da guerra, feita de soldados durões e um completo aparato bélico açougueiro, talvez não seja um bom negócio. Não só essa bestialidade, mas bem como a ideologia de progresso e dominação que a sustenta, que é a ideologia do mundo real onde vivem imersos e desacordados pais e filhos. É uma pena que a maioria dos pais não vão sequer se lembrar dessa lição quando levarem seus filhos para tomar a próxima dose de violência gratuita nas telas do cinema.