segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O clichê das tragédias urbanas

Existem situações que não cansam de se repetir nas cidades quando, cada vez mais frequentes, irrompem enchentes, casas alagadas e barrancos vindo abaixo com tudo e todos. Seja no asfalto da rua ou na tela da tv, segue-se sempre a mesma indignação fervorosa, que se volta contra o poder público e, sem remédio, faz mais alto o lamento da tragédia, do infortúnio e da fatalidade.

A mídia principalmente, explora muito bem estas duas vertentes dando vazão à voz que reforça a superficialidade e propaga, mais uma vez, o erro da desinformação.

A culpa é de quem? Dos governantes que hoje se acham empossados tentando consertar o que se deve há séculos de estreiteza? Vamos culpar quem, se vivemos em cidades que desde a primeira pedra não atentam para uma ocupação inteligente do espaço? Apinhadas entre avenidas cinzentas, asfalto e lixo, nossas cidades foram construídas para o caos. Se todo o verde que absorve a água da chuva foi ceifado há tempos do ambiente urbano, para onde querem que vá toda essa água?

A culpa é dos rios, represas e córregos estrangulados? Ou será que o comportamento de cheia de um fluxo de água com alagamento de suas margens é algo antinatural? Podemos perguntar a alguns povos da antiguidade, que viviam às margens dos rios, e que com pouca instrumentação e pretensão, sabiam bem mais do que nós.

Se a culpa é dos governantes, vejamos que incrível surpresa temos ao saber que o poder público atua por meio do trabalho e das idéias de cidadãos comuns, engenheiros, arquitetos, agrônomos, economistas...que em sua maioria só agora atentam para uma construção do espaço saudável e inteligente. Então, a culpa é de quem?

Ocupamos todas as encostas dos morros. Falar do problema social que estes morros carregam não resolve o problema. A natureza é sempre natureza, sempre foi e sempre será. Domá-la é uma ilusão tão grande como aquela que fez e ainda faz pouco das advertências dos ambientalistas, que aliás, já avisaram: vai chover, e muito.

De onde vem a tragédia então? Vamos chorar uma tragédia que nós mesmos escolhemos enquanto cidadãos, geração após geração? Enquanto isso a voz do repórter anuncia mais uma fatalidade na cidade transbordante, mais uma vez, lamentando os efeitos, mais uma vez, desconhecendo as causas.

3 comentários:

  1. Desconhecendo as causas ou fazendo vista grossa? Creio que um chá de consciência não é o que os espectadores querem, por isso creio que não seja do interesse das emissoras fazê-lo. É sempre mais fácil jogar a culpa no governo, como se ele fosse uma entidade à parte da sociedade. Se não há um interesse popular que dure mais do que o lamento de uma tragédia, então não há mudanças de diretrizes governamentais para sanar a causa, e não o efeito.

    ResponderExcluir
  2. Hoje eu ouvi um menino dizendo "ah, você mora em São Paulo? A terra da canoa?".

    ResponderExcluir
  3. Carolets querida

    Este problema que abordas é algo intrínseco a atualidade em que vivemos.Mas suas causas certamente vem de hábitos e costumes anteriores a era industrial.
    E mesmo imbuidos das mais puras intenções, penso que pouco podemos fazer, quero dizer, cada um pode começar agindo na sua esfera mas so conseguiremos algo de valor mesmo a partir da união dos esforços de muitos.
    É minha humilde opinião.
    Quero aproveitar o espaço para dar-lhe os parabéns por este blog tão bacana, rico em questionamentos.

    ResponderExcluir