Existem situações que não cansam de se repetir nas cidades quando, cada vez mais frequentes, irrompem enchentes, casas alagadas e barrancos vindo abaixo com tudo e todos. Seja no asfalto da rua ou na tela da tv, segue-se sempre a mesma indignação fervorosa, que se volta contra o poder público e, sem remédio, faz mais alto o lamento da tragédia, do infortúnio e da fatalidade.
A mídia principalmente, explora muito bem estas duas vertentes dando vazão à voz que reforça a superficialidade e propaga, mais uma vez, o erro da desinformação.
A culpa é de quem? Dos governantes que hoje se acham empossados tentando consertar o que se deve há séculos de estreiteza? Vamos culpar quem, se vivemos em cidades que desde a primeira pedra não atentam para uma ocupação inteligente do espaço? Apinhadas entre avenidas cinzentas, asfalto e lixo, nossas cidades foram construídas para o caos. Se todo o verde que absorve a água da chuva foi ceifado há tempos do ambiente urbano, para onde querem que vá toda essa água?
A culpa é dos rios, represas e córregos estrangulados? Ou será que o comportamento de cheia de um fluxo de água com alagamento de suas margens é algo antinatural? Podemos perguntar a alguns povos da antiguidade, que viviam às margens dos rios, e que com pouca instrumentação e pretensão, sabiam bem mais do que nós.
Se a culpa é dos governantes, vejamos que incrível surpresa temos ao saber que o poder público atua por meio do trabalho e das idéias de cidadãos comuns, engenheiros, arquitetos, agrônomos, economistas...que em sua maioria só agora atentam para uma construção do espaço saudável e inteligente. Então, a culpa é de quem?
Ocupamos todas as encostas dos morros. Falar do problema social que estes morros carregam não resolve o problema. A natureza é sempre natureza, sempre foi e sempre será. Domá-la é uma ilusão tão grande como aquela que fez e ainda faz pouco das advertências dos ambientalistas, que aliás, já avisaram: vai chover, e muito.
De onde vem a tragédia então? Vamos chorar uma tragédia que nós mesmos escolhemos enquanto cidadãos, geração após geração? Enquanto isso a voz do repórter anuncia mais uma fatalidade na cidade transbordante, mais uma vez, lamentando os efeitos, mais uma vez, desconhecendo as causas.
Desconhecendo as causas ou fazendo vista grossa? Creio que um chá de consciência não é o que os espectadores querem, por isso creio que não seja do interesse das emissoras fazê-lo. É sempre mais fácil jogar a culpa no governo, como se ele fosse uma entidade à parte da sociedade. Se não há um interesse popular que dure mais do que o lamento de uma tragédia, então não há mudanças de diretrizes governamentais para sanar a causa, e não o efeito.
ResponderExcluirHoje eu ouvi um menino dizendo "ah, você mora em São Paulo? A terra da canoa?".
ResponderExcluirCarolets querida
ResponderExcluirEste problema que abordas é algo intrínseco a atualidade em que vivemos.Mas suas causas certamente vem de hábitos e costumes anteriores a era industrial.
E mesmo imbuidos das mais puras intenções, penso que pouco podemos fazer, quero dizer, cada um pode começar agindo na sua esfera mas so conseguiremos algo de valor mesmo a partir da união dos esforços de muitos.
É minha humilde opinião.
Quero aproveitar o espaço para dar-lhe os parabéns por este blog tão bacana, rico em questionamentos.