quarta-feira, 4 de maio de 2011

Jackie

Jackie é uma cachorrinha terrível. Tem uma personalidade tão forte, que muitas vezes temos de chamar ela pelo nome inteiro, Jaqueline. Que nem criança, que na hora da bronca, não é mais Carol, nem Ca, mais somente Caroline, ela mesma, sem desculpa para ser confundida com outra pessoa.

Pois bem, Jaqueline é uma vira latinha tão danada e incomum, que por isso mesmo acabou nos saindo uma ótima professora. Jaqueline quer minha atenção o tempo todo, e não há nada nesse mundo que a faça parar de pular em cima de mim – em qualquer circunstância. Pede atenção constante, e se não dou, simplesmente morde minha mão, bem ao estilo "Charlie bit my finger"
(vide: http://www.youtube.com/watch?v=_OBlgSz8sSM).

Ela também é muito espivetada, ansiosa e esta sempre falando, na língua dela é claro, mas não para de fazer barulhinhos, uivos e latidos, e outros sons estranhos, que meu pai classifica simplemente como “barulhos muito doidos”.

Jaqueline é exagerada, come demais, esta sempre correndo, tropeçando, caindo, dando cambalhota e se espatifando nas coisas. As vezes ela me lembra eu mesma quando criança. Mas acho que até nisso ela me supera.

Dentre tantas coisas, Jaqueline me ensinou a respeitar o espaço do outro. Ela é muito ciumenta com nosso outro cãozinho, o Juca, um vira lata monástico e introvertido que prefere o silêncio do repouso e se abstém de toda e qualquer confusão. Causar não é com ele, em nenhuma hipótese. Pois bem, Jackie, em sua extrema empolgação, não nos deixa chegar perto do Juca. Rosna, faz cena e late para ele. Jaqueline também não nos deixa pegar nada na mão que não possa ser mordido e possuído exclusivamente por ela, bem longe de qualquer um. É por isso que ela me ensinou a partilhar as coisas. Por mais que eu saiba que minhas coisas a serem partilhadas estão bem além de uma bolinha e alguns tapetinhos. Jackie também não nos deixa abrir gavetas, sem pular dentro, querendo ficar ali. Aliás, não há espaço que ela não possa ocupar, e não foram raras as vezes que ela sentou em cima do Juca (que é bem maior que ela), ou passou por cima dele, enquanto ele, resignado, franzia a testa frente ao incompreensível. Um outro hábito engraçado é quando ela sai correndo por ai e ao colidir com o Juca, dá lhe umas boas latidas e rosnadas, como quem diz: “quem é você que ousa se colocar no meu caminho, grandalhão?”. Jackie realmente é insuperável. Me faz lembrar quantas vezes batemos cegos contra paredes imóveis, julgando que elas se colocam em nosso caminho, interceptando nossa correria.

A última de Jackie foi seu comportamento peculiar na presença de estranhos. Alguém já viu algum cachorro rosnar e pedir carinho ao mesmo tempo, abanando o rabo timidamente? Eu não. Pensando bem, Jackie me lembra mais a raça humana do que sua própria espécie. Quantos de nós já sorrimos por fora para outras pessoas, abanando o rabinho, mas rangendo os dentes de vontade de dizer: “ei, não gosto de estar na sua companhia, você me dá medo e vontade de me defender”. Ou então pior, ficamos na defensiva, cheios de armaduras e com os dentes a mostra, quando tudo que queremos, lá no fundo, é abanar o rabinho e dar e receber carinho.

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