segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Avatar e a Cultura da Guerra

De que adianta o coro dos bons modos, da cidadania, da ética e da Xuxa, dizendo que é bom ser bonzinho com nossos amiguinhos se vivemos em uma sociedade impregnada por uma cultura de guerra? Guerra? Como assim dirá você? E não só é uma cultura de guerra, como também é uma cultura da agressividade e do domínio.

Vejamos primeiro as crianças, e vamos deixar as meninas de lado nesse momento, cuja característica que principalmente as difere dos meninos na infância e pré adolescência é o encaminhamento para uma feminilidade exaustivamente preenchida pela moda, pela beleza, pela busca de atenção e poder, e obviamente, pela sedução a qualquer preço do macho dominante. Mas vamos deixar as meninas de lado e vamos falar dos meninos, obviamente de modo geral.

A naturalidade com que um menino de 5 anos imita um revólver com a mão e distribui sonoros tiros cinematográficos sobre seus coleguinhas, é a mesma com a que os pais presenteiam seus filhos com toda sorte de artefatos e ícones de guerrra e violência: armas, bonecos armados, tanques de guerra, desenhos animados repletos de pancadaria e lutas, que, quer sejam entre o bem e o mal, aparecem cada vez mais agressivas e cotidianas. Estes mesmos pais fervem de dor de cabeça em uma reunião de colégio quando ficam sabendo que seu anjinho mordera a orelha do coleguinha no recreio.

Por essas e outras, é bem possível que o filme Avatar tenha pego muitos pais de surpresa, que, ao levarem seus filhos para mais um filme de ação cheio de efeitos especiais, acabaram levando de brinde uma lição sobre como a bestialidade glamourosa da guerra, feita de soldados durões e um completo aparato bélico açougueiro, talvez não seja um bom negócio. Não só essa bestialidade, mas bem como a ideologia de progresso e dominação que a sustenta, que é a ideologia do mundo real onde vivem imersos e desacordados pais e filhos. É uma pena que a maioria dos pais não vão sequer se lembrar dessa lição quando levarem seus filhos para tomar a próxima dose de violência gratuita nas telas do cinema.

2 comentários:

  1. Oi, Carol! Tem a ver com esse post, e com o post sobre músicas de amor, e geralmente atualmente embora eu pense um monte de coisa, eu não escrevo nada, então comentar o seu blog será uma ótima desculpa rs Do Nick Hornby, em Alta Fidelidade:
    "(...) eu, na realidade, nunca superei Charlie. (...) Algumas de minhas canções favoritas: "Only Love Can Break Your Heart", de Neil Young; "Last Night I Dreamed That Somebody Loved Me", dos Smiths; "Call Me", com Aretha Franklin; "I Don't Want to Talk About It", com qualquer um. E há também "Love Hurts" e "When Love Breaks Down"(...) e "I Just Don't Know What to do with myself" e... algumas dessas canções eu ouvi cerca de uma vez por semana, em média (trezentas vezes no primeiro mês, e de vez em quando depois disso) desde os dezesseis ou dezenove ou vinte e um anos de idade. Como é que isso pode não deixar você magoado de alguma forma? (...) O que veio primeiro, a música ou a dor? (...) As pessoas se preocupam com o fato das crianças brincarem com armas e dos adolescentes assistirem a certos vídeos violentos; temos medo de que assimilem um certo tipo de culto à violência. Ninguém se preocupa com o fato das crianças ouvirem milhares - literalmente milhares - de canções sobre amores perdidos e rejeição e dor e infelicidade e perda. As pessoas afetivamente mais infelizes que conheço são as que mais gostam de música pop; e não sei se foi a música pop que causou tal infelicidade, mas sei que elas vêm ouvindo as canções tristes há mais tempo do que vêm vivendo suas vidas infelizes."
    Não dá o que pensar? :) Beijos, Rafa.

    ResponderExcluir
  2. Acho que faz parte do embrutecimento imposto para achar cabível certas atitudes contra uma etnia ou povo em geral. "Tudo bem, eles são malvados, pode matar à vontade." Acho que isso é mais forte nos EUA, que tem a mania de querer bancar o país que pretende salvar o mundo dele mesmo. Talvez também seja uma maneira de diminuir o valor da vida em si, banalizando a maneira de como ela pode ser tirada.

    ResponderExcluir