domingo, 14 de agosto de 2011

Cães, coleiras e casamentos

Jackie e Juca não sabem passear juntos. Um puxa para um lado enquanto o outro vai para frente e depois para trás, e não demora muito para que eles (e eu também!), fiquemos maravilhosamente enrolados. Se houver um poste ou uma árvore por perto, então a chance da coisa se complicar aumenta muito, e um nó cego não é difícil de prever.

Assim, tentando fazer (a muito custo) com que caminhassem juntos, tive uma ideia brilhante! Eu até poderia patenteá-la, se alguém com um pouco mais de conhecimento sobre cães e física, já não o tivesse feito. Resolvi juntar as duas guias, enrolando-as como se fossem uma só. Alí, através de um ponto de força único, tudo mudou: Juca e Jackie viram-se presos pelo mesmo laço, e não eram mais a mim que puxavam em seus mirabolantes percursos caninos, mas sim um ao outro.

Não demorou muito para que percebessem que estavam, assim juntos, a mercê do movimento um do outro, e que quanto mais se recusassem em andar lado a lado, tranquilamente, mais enrolados ficariam, e dessa vez, não era eu quem seria capaz de coordenar seus movimentos, senão eles mesmos, um em relação ao outro.

Jackie e Juca aprenderam assim, atados, finalmente a andar juntos.

Uma vez entendido o objetivo comum pela força da ocasião (passear!) os dois viram-se subitamente andando na mesma velocidade e na mesma direção, e cada esforço, para frente ou para o lado, cada cheiradinha de grama, cada paradinha no poste, mesmo quando feita em momentos diferentes, era agora compartilhada, e os dois aprenderam a esperar e sentir um ao outro.

Não é nem um pouco legal sair correndo por ai enrolando as coleiras em tudo e em todos, mas isso não fui eu quem disse a eles. Eles simplesmente aprenderam. E aprenderam que cada puxão levaria inevitavelmente o outro junto. Então acordaram silenciosamente em fazer um passeio feliz e calmo. Meus dois vira-latas estavam quase andando a passos de um footing do século dezoito. Que orgulho.

Se eu soubesse que uma lei da física, capaz de coordenar dois vetores de força diferentes através de um ponto comum, era mais eficaz do que qualquer adestramento, eu definitivamente teria feito isso antes. Um puxa um pouquinho para um lado, o outro para o outro, e assim, equilibrando vontades, parecem caminhar cada vez mais para frente.

Continuei meu caminho pensando maravilhada em como o encontro com a força e a vontade do outro, nos ensinam a dosar melhor nossos próprios passos. Pensei no casamento, em relacionamentos e em qualquer outra ligação de união através de um ponto comum. Agora entendia melhor porque caminhar junto era um exercício que trazia experiências diferentes dos momentos em que caminhamos aparentemente sozinhos. Essa ligação, esse fio, as duas coleiras juntas, como se fossem o lembrete de um propósito em comum – caminhar, seria sempre motivo de aprendizado.

Alguns dizem que o relacionamento é um espelho, onde nos vemos com mais clareza do que o normal. Ouros dizem que é um sonho, uma alegria, um impulso para a melhora, e outros, um pesadelo, e se revoltam cada vez mais com as coleiras que os prendem, com os passos descompassados e divergentes durante o caminho.

Para aqueles primeiros, me parece que compreenderam um pouco mais sobre o sentido de estar junto. Para os últimos, mesmo que não compreendam, me parece que vivenciam o sentido disso a cada tombo e tropeço, em que se veem puxados para uma direção que não querem ou não gostam. Para esses, a ligação também ensina. Até que lhes sobrevenha a vontade de ajustar o passo ou se recusar a caminhar em conjunto.

Para minha felicidade, tenho que reconhecer que essa última opção, pelo menos por enquanto, Juca e Jackie nunca escolheram, recusando-se a passear em conjunto. Por mais que a natureza humana seja completamente diferente da instintiva natureza animal.

Mas até mesmo Juca e Jackie, caninos até o último pêlo, quando esqueciam que estavam caminhando juntos, ao serem puxados, levados e conduzidos pelo movimento do outro, lembravam novamente de perceber e considerar a presença logo ao lado, calibrando o passo.

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